sábado, 7 de março de 2009

Crise financeira deixa atletas "encalhados" no Brasil

Tossiro Yamamoto

Dessa vez, eles ficaram. Hernanes, Alex, Ramires, Nilmar, Juan. Não houvesse uma crise financeira mundial, todos eles, destaques nos gramados brasileiros do ano passado, já estariam vestindo a camisa de algum clube europeu. Será o início de uma nova fase para o futebol brasileiro? Alguns dos envolvidos, em entrevista exclusiva ao Terra, respondem.

"Desde o ano passado, o número e o valor das transações foram reduzidos", diz o economista e presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo. "Se você tem uma crise de crédito, isso afeta as empresas, os patrocínios. É uma cadeia. A primeira coisa que as empresas cortam é esse tipo de despesa (patrocínio), por exemplo, com clubes de futebol como veículos de marketing".

A janela de transferências para o exterior foi fechada na última segunda-feira. No sábado, o Cruzeiro anunciou a venda do atacante Guilherme para o Dínamo de Kiev, da Ucrânia - considerada a principal negociação do mercado brasileiro. Além de 5 milhões de euros (cerca de R$ 15 mi), o time mineiro recebeu ainda outro jogador da posição: Kléber, que defendeu o Palmeiras em 2008.

"O negócio do Cruzeiro envolveu troca de jogadores, senão também não aconteceria", afirma Luís Carlini, empresário do meio-campista Alex, do Internacional, que integrava a lista de postulantes a deixar o futebol brasileiro mas também "encalhou". "Não foi apenas com o Alex. O Hernanes também não saiu, por exemplo", acrescenta.

A recessão financeira preocupa. Belluzzo e o ramo empresarial, entretanto, tentam equacionar o impacto negativo causado pela crise, e a palavra de ordem é se readaptar aos novos valores do mercado. O mandatário prevê uma redução natural de gastos, ao passo que Carlini já trabalha com números aquém do ideal.

"A tendência é reduzir a capacidade financeira dos clubes em gerar demanda por novos jogadores. A bilheteria provavelmente não será tão afetada, a menos que haja depressão", destaca Belluzzo, cuja opinião é endossada pelo empresário de Alex. "Momentaneamente, preocupa. O mercado é que dita os valores", diz o agente.

"Se o jogador é bom, com certeza vão aparecer boas propostas", afirma Daniel Pereira, irmão e empresário do atacante Kléber Pereira, do Santos, na contramão dos demais. Para ele, a crise não atingiu o futebol e tem sido utilizada pelos clubes como desculpa para desvalorizar os jogadores. "E crises sempre passam", acredita.

O centroavante santista, no entanto, é mais um da relação. Artilheiro do último Campeonato Brasileiro, com 21 gols, Kléber Pereira esteve perto de deixar a Vila Belmiro no início do ano. O destino seria o futebol árabe. "Lá a abundância de petróleo rende dinheiro à vontade", diz o empresário.

No São Paulo, o volante/meia Hernanes era dado como certo no Barcelona em 2009. Os laterais Léo Moura e Juan, por sua vez, não realizaram o sonho do Flamengo de amenizar as dívidas do futebol. Já no Cruzeiro, o volante Ramires e o goleiro Fábio continuam como futuro alvo estrangeiro.

Outros nomes da lista são o zagueiro Gustavo e o lateral-direito Élder Granja, que também eram apontados no Palmeiras como futuros reforços do futebol italiano. E, em meio à crise, o defensor foi de graça para o Cruzeiro, enquanto o ala segue sem clube.

Na direção oposta, alguns jogadores serão repatriados pelos clubes do Brasil. "O 'gap' (diferença) entre os salários de fora e o daqui vai fechar. Os clubes europeus vão querer se 'desfazer' dos atletas caros, o que facilita o retorno", diz Beluzzo, prevendo uma nova realidade para o cenário do futebol atual.

O zagueiro Edmílson (Villarreal para o Palmeiras), o lateral-esquerdo Léo (Benfica para o Santos), os meio-campistas Zé Roberto (Schalke 04 para o Flamengo) e Thiago Neves (Hamburgo para o Fluminense) e os atacantes Souza (Panathinaikos para o Corinthians) e Ronaldo (sem clube, desde o Milan, para o Corinthians) são alguns exemplos.

Carlini sugere ainda outras alternativas para que as transações não sejam interrompidas. Como Alex detém 30% dos direitos federativos, pode abdicar de receber sua parte da transferência ou remanejá-la em uma segunda venda futura, o que diminuiria o valor do negócio.

"Por isso, a solução é os jogadores manterem o trabalho, continuarem motivados para que se criem possibilidades nas próximas janelas de transferência", diz. Até lá, torcedores e o futebol brasileiro agradecem a permanência de seus talentos.

» Veja fotos dos "encalhados"

Veja relação de alguns "encalhados":

Alex - Esteve próximo de deixar o Inter até o último dia da janela, mas não recebeu propostas oficiais
Nilmar - Atacante permanece no Inter
Léo - Zagueiro permanece no Grêmio
Dentinho - Atacante foi sondado pela Juventus, mas permanece no Corinthians
André Santos - Lateral permanece no Corinthians
Hernanes - Volante era alvo do Barcelona, mas permanece no São Paulo
Miranda - Zagueiro foi especulado no futebol europeu, mas segue no São Paulo
Kléber - Deixou o Santos para jogar no Inter depois de não receber propostas de fora
Diego Souza - Meia-atacante não deu retorno ao investimento ainda e segue no Palmeiras
Élder Granja - Quase saiu para a Itália, mas não houve negócio e acabou dispensado pelo Palmeiras (atualmente está sem clube)
Gustavo - Sondado para jogar na Europa, zagueiro foi liberado pelo Palmeiras para defender o Cruzeiro
Kléber Pereira - Santos não recebeu propostas, e atacante continua na Vila Belmiro
Ramires - Destaque no Cruzeiro, volante foi garantido pelo clube
Wagner - Meia permanece no Cruzeiro
Fábio - Goleiro teve nome várias vezes especulado para jogar no exterior, mas continua no Cruzeiro
Léo Moura - Lateral permanece no Flamengo
Juan - Espanhóis sondaram, mas não tiraram o lateral do Flamengo

Redação Terra

Nenhum comentário: