Tossiro Yamamoto
Dessa vez, eles ficaram. Hernanes, Alex, Ramires, Nilmar, Juan. Não houvesse uma crise financeira mundial, todos eles, destaques nos gramados brasileiros do ano passado, já estariam vestindo a camisa de algum clube europeu. Será o início de uma nova fase para o futebol brasileiro? Alguns dos envolvidos, em entrevista exclusiva ao Terra, respondem.
"Desde o ano passado, o número e o valor das transações foram reduzidos", diz o economista e presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo. "Se você tem uma crise de crédito, isso afeta as empresas, os patrocínios. É uma cadeia. A primeira coisa que as empresas cortam é esse tipo de despesa (patrocínio), por exemplo, com clubes de futebol como veículos de marketing".
A janela de transferências para o exterior foi fechada na última segunda-feira. No sábado, o Cruzeiro anunciou a venda do atacante Guilherme para o Dínamo de Kiev, da Ucrânia - considerada a principal negociação do mercado brasileiro. Além de 5 milhões de euros (cerca de R$ 15 mi), o time mineiro recebeu ainda outro jogador da posição: Kléber, que defendeu o Palmeiras em 2008.
"O negócio do Cruzeiro envolveu troca de jogadores, senão também não aconteceria", afirma Luís Carlini, empresário do meio-campista Alex, do Internacional, que integrava a lista de postulantes a deixar o futebol brasileiro mas também "encalhou". "Não foi apenas com o Alex. O Hernanes também não saiu, por exemplo", acrescenta.
A recessão financeira preocupa. Belluzzo e o ramo empresarial, entretanto, tentam equacionar o impacto negativo causado pela crise, e a palavra de ordem é se readaptar aos novos valores do mercado. O mandatário prevê uma redução natural de gastos, ao passo que Carlini já trabalha com números aquém do ideal.
"A tendência é reduzir a capacidade financeira dos clubes em gerar demanda por novos jogadores. A bilheteria provavelmente não será tão afetada, a menos que haja depressão", destaca Belluzzo, cuja opinião é endossada pelo empresário de Alex. "Momentaneamente, preocupa. O mercado é que dita os valores", diz o agente.
"Se o jogador é bom, com certeza vão aparecer boas propostas", afirma Daniel Pereira, irmão e empresário do atacante Kléber Pereira, do Santos, na contramão dos demais. Para ele, a crise não atingiu o futebol e tem sido utilizada pelos clubes como desculpa para desvalorizar os jogadores. "E crises sempre passam", acredita.
O centroavante santista, no entanto, é mais um da relação. Artilheiro do último Campeonato Brasileiro, com 21 gols, Kléber Pereira esteve perto de deixar a Vila Belmiro no início do ano. O destino seria o futebol árabe. "Lá a abundância de petróleo rende dinheiro à vontade", diz o empresário.
No São Paulo, o volante/meia Hernanes era dado como certo no Barcelona em 2009. Os laterais Léo Moura e Juan, por sua vez, não realizaram o sonho do Flamengo de amenizar as dívidas do futebol. Já no Cruzeiro, o volante Ramires e o goleiro Fábio continuam como futuro alvo estrangeiro.
Outros nomes da lista são o zagueiro Gustavo e o lateral-direito Élder Granja, que também eram apontados no Palmeiras como futuros reforços do futebol italiano. E, em meio à crise, o defensor foi de graça para o Cruzeiro, enquanto o ala segue sem clube.
Na direção oposta, alguns jogadores serão repatriados pelos clubes do Brasil. "O 'gap' (diferença) entre os salários de fora e o daqui vai fechar. Os clubes europeus vão querer se 'desfazer' dos atletas caros, o que facilita o retorno", diz Beluzzo, prevendo uma nova realidade para o cenário do futebol atual.
O zagueiro Edmílson (Villarreal para o Palmeiras), o lateral-esquerdo Léo (Benfica para o Santos), os meio-campistas Zé Roberto (Schalke 04 para o Flamengo) e Thiago Neves (Hamburgo para o Fluminense) e os atacantes Souza (Panathinaikos para o Corinthians) e Ronaldo (sem clube, desde o Milan, para o Corinthians) são alguns exemplos.
Carlini sugere ainda outras alternativas para que as transações não sejam interrompidas. Como Alex detém 30% dos direitos federativos, pode abdicar de receber sua parte da transferência ou remanejá-la em uma segunda venda futura, o que diminuiria o valor do negócio.
"Por isso, a solução é os jogadores manterem o trabalho, continuarem motivados para que se criem possibilidades nas próximas janelas de transferência", diz. Até lá, torcedores e o futebol brasileiro agradecem a permanência de seus talentos.
Veja relação de alguns "encalhados":
Alex - Esteve próximo de deixar o Inter até o último dia da janela, mas não recebeu propostas oficiais
Nilmar - Atacante permanece no Inter
Léo - Zagueiro permanece no Grêmio
Dentinho - Atacante foi sondado pela Juventus, mas permanece no Corinthians
André Santos - Lateral permanece no Corinthians
Hernanes - Volante era alvo do Barcelona, mas permanece no São Paulo
Miranda - Zagueiro foi especulado no futebol europeu, mas segue no São Paulo
Kléber - Deixou o Santos para jogar no Inter depois de não receber propostas de fora
Diego Souza - Meia-atacante não deu retorno ao investimento ainda e segue no Palmeiras
Élder Granja - Quase saiu para a Itália, mas não houve negócio e acabou dispensado pelo Palmeiras (atualmente está sem clube)
Gustavo - Sondado para jogar na Europa, zagueiro foi liberado pelo Palmeiras para defender o Cruzeiro
Kléber Pereira - Santos não recebeu propostas, e atacante continua na Vila Belmiro
Ramires - Destaque no Cruzeiro, volante foi garantido pelo clube
Wagner - Meia permanece no Cruzeiro
Fábio - Goleiro teve nome várias vezes especulado para jogar no exterior, mas continua no Cruzeiro
Léo Moura - Lateral permanece no Flamengo
Juan - Espanhóis sondaram, mas não tiraram o lateral do Flamengo
Redação Terra

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