terça-feira, 3 de novembro de 2009

Brasileirão em pontos corridos ou com fase classificatória e 'playoffs'? O que Max Weber tem a ver com isso

Filósofo alemão define os elementos que caracterizariam a influência racional, considerada o tipo ideal, e a presença do mérito, imprescindível no processo

Luis Filipe Chateaubriand

Na semana passada, o jornalista Juca Kfouri divulgou que a Rede Globo de Televisão apresentará à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) uma proposta de modificação da forma de disputa do Campeonato Brasileiro.

Em resumo, a forma de disputa proposta é a seguinte: todos os clubes jogam entre si em turno e returno, sendo que os oito melhores colocados classificam-se aos “playoffs”; os oito classificados são divididos em quatro grupos de dois, com jogos de ida e volta; os quatro classificados são divididos em dois grupos de dois, com jogos de ida e volta; os dois clubes finalistas decidem o título em jogos de ida e volta; classificam-se para a Copa Libertadores da América os três clubes de melhor classificação na fase de pontos corridos, mais o clube campeão ou, em caso do clube campeão ser um desses três, mais o quarto colocado da fase de pontos corridos.

Na prática, a proposta feita ressuscita a polêmica se o Campeonato Brasileiro deve ser disputado em pontos corridos ou em sistema de fase classificatória e “playoffs”. Os defensores do sistema de fase classificatória e ”playoffs” chamam os defensores dos pontos corridos de “imitadores do modelo europeu”. Por sua vez, são chamados, por estes, de “imitadores do modelo do basquete norte-americano”. E a polêmica segue, sólida, ao longo dos anos.

Acompanhando esse debate, ocorreu a este escriba refletir sobre o que o sociólogo alemão Max Weber (1864 / 1920) pensaria do imbróglio tupiniquim.

Segundo o renomado intelectual, existem três tipos de capacidades de influenciar pessoas: a tradicional, a carismática e a racional.

A influência tradicional é a que se faz a partir de uma proeminência de determinada família. O patriarca da família é considerado autoridade moral, e todos devem segui-lo. Com o seu falecimento, a autoridade é automaticamente transferida para o primogênito homem, que passa a ser o novo patriarca.

A influência carismática é a que se faz a partir de um líder com personalidade marcante em relação aos seus seguidores. Os seguidores aceitam as instruções do líder, porque ele legitima sua autoridade a partir de seu carisma.

A influência racional é baseada em argumentos calcados na razão: quem influencia, o faz a partir de preceitos considerados científicos, normalmente amparados pela lei e por um corpo de funcionários qualificados, chamados burocracia (no bom sentido da palavra).

Weber define o tipo de influência racional como tipo ideal. O carismático poderia ser usado para se fazer o certo ou o errado, dependendo da personalidade do líder. O tradicional seria o tipo mais retrógrado de dominação.

E o que tudo isso tem a ver com futebol? Simples: Weber define os elementos que caracterizariam a influência racional, considerada o tipo ideal, e a presença do mérito é considerada elemento imprescindível. Garantir que se respeite quem tem mérito - sejam pessoas, sejam Instituições - é algo fundamental quando se fala em sociedade que se pretende racional, ou desenvolvida.

Então, é só pensar: qual o sistema de disputa, para o principal campeonato em disputa em nosso país, que promove o mérito? O no qual todos os clubes jogam entre si duas vezes, com um mando de campo para cada time, e o clube campeão é o que faz maior número de pontos. Mérito puro!

Como bem sabem os diversos cidadãos envolvidos com alguma atividade de Administração de Organizações, Max Weber é considerado um ícone para estudos nessa área. Se vivesse nos dias atuais, no Brasil, e gostasse de futebol, não há dúvidas: seria um árduo defensor da forma de disputa em pontos corridos.
*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).

Nenhum comentário: