Por Gustavo Zanuz*
O sucesso no futebol não depende apenas de solidez institucional, financeira e política, mas também de um pequeno quê de sorte. Afinal de contas, o seu clube não é o único que entra nas competições para ganhar e muitos são igualmente fortes. Porém, já estava provado na Europa e, mais recentemente, no Brasil, que boa organização e estrutura fazem grande diferença.

No "Grenal dos sócios", Inter está na frente
Os dois principais clubes do Rio Grande do Sul têm obtido importante destaque no cenário nacional e internacional nos últimos anos. O Sport Club Internacional foi campeão da Libertadores e do Mundo em 2006 e campeão da Sulamericana em 2008, além de boas colocações nos últimos Campeonatos Brasileiros, tendo obtido o 2o lugar em 2005 e em 2006 e o 5o em 2008 (2007 foi a exceção, com um 11o lugar). O Grêmio Foot-ball Portoalegrense, por sua vez, não conseguiu os títulos, mas, desde o seu dramático Campeonato da Série B, em 2005, ficou perto do topo nos três Brasileiros subsequentes: 3o em 2006, 6o em 2007 e 2o em 2008, sendo que neste último liderou o campeonato por 17 rodadas. Também foi vice-campeão da Libertadores em 2007.
Embora os dois clubes tenham traçado trajetórias muito diferentes para chegar onde estão atualmente, pode-se dizer, sem erro, que um importante fator foi comum a ambos: seus enormes quadros sociais.
Acredito que o grande sucesso do modelo associativo de Grêmio e Internacional deve-se muito à intensa (e, às vezes, insana) rivalidade. O bom momento colorado de 2005, contrastando com o fundo do poço vivido pelo tricolor, motivou os torcedores vermelhos a buscarem associação, como forma de contribuir ao clube de forma constante. Também era uma forma de garantir presença nos jogos da tão esperada Libertadores de 2006 - fazia muitos anos que o Internacional não disputava a mais importante competição da América do Sul. Por sua vez, os gremistas aproveitaram a euforia precedida pelo desespero - não há como negar que a “Batalha dos Aflitos” foi determinante nesse aspecto (eu mesmo me associei ao Grêmio em dezembro de 2005 - 2 semanas após o dramático jogo contra o Náutico).
De todas as formas, os dois clubes tiveram um movimento extraordinário de associações em 2006 e 2007 - de cerca de 5.000 sócios pontuais cada, o Grêmio passou a 40.000 e o Inter a 50.000, aproximadamente. Desses números, cerca de um terço são sócios patrimoniais, com direito a entrada garantida, e o restante é composto de sócios-torcedores, que têm direito a 50% de desconto nos ingressos, além de poderem comprar pela internet ou por telefone, carregando seus smart-cards, o que evita o transtorno de enfrentar filas em bilheterias, especialmente nos jogos mais importantes.
Aproveitando o centenário do clube, que acontecerá no mês de abril, o Internacional lançou uma campanha estipulando a meta de 100.000 sócios há um ano, quando o clube completou 99 anos. Apesar de alguns não conseguirem dizer o nome do time, o Inter chegou à incrível marca de 80.000 sócios em fevereiro deste ano, ultrapassando com muita folga o número de sócios do rival, que tem 46.700 sócios em dia. Estima-se que o Grêmio arrecade quase 2 milhões de reais por mês com as mensalidades de seus sócios, o que é suficiente para cobrir a atual folha salarial do clube, com alguma folga. Devido às pesadas dívidas trabalhistas contraídas por conta da fracassada parceria com a empresa de marketing esportivo suíça ISL, praticamente toda a receita extra destina-se à quitação das mesmas. Porém, a dívida está sob controle e sendo amortizada, o que permitiu ao clube voltar a ter crédito junto às instituições financeiras e aos clubes brasileiros e do exterior.
O Internacional não teve problemas administrativos dessa envergadura, o que lhe permitiu chegar aos anos 2000 sem dívidas expressivas. E está colhendo os frutos dessa estabilidade administrativa, sendo que a maioria dos jogadores têm contratos de 2 anos ou mais. E a gigantesca arrecadação com o quadro social lhe permite bancar uma folha salarial expressiva, sendo considerada a maior do Brasil atualmente.
Por conta do grande número de sócios dos dois clubes, os estádios Olímpico e Beira-Rio mantêm médias de público altas. O Grêmio teve a maior média de público pagante em 2006 (25.630) e a segunda melhor em 2008 (31.725), segundo o site da CBF. Estádios cheios têm um efeito psicológico positivo sob a equipe. Não por menos, tanto o Grêmio como o Inter são equipes muito difíceis de serem batidas em seus domínios.
Certamente há um espaço expressivo para crescimento da receita de Grêmio e Internacional, especialmente no que diz respeito a patrocínios. O valor atualmente pago pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para os dois clubes é pouco superior a R$ 3,5 milhões por ano. Considerando o valor dos contratos que os grandes clubes brasileiros estão obtendo, é provável que o próximo patrocinador dos clubes invista um montante consideravelmente maior nos próximos anos. Mas não entrarei neste assunto, que é tema para outro artigo.
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