domingo, 22 de março de 2009

Os donos do clube

Por Gustavo Zanuz*

O sucesso no futebol não depende apenas de solidez institucional, financeira e política, mas também de um pequeno quê de sorte. Afinal de contas, o seu clube não é o único que entra nas competições para ganhar e muitos são igualmente fortes. Porém, já estava provado na Europa e, mais recentemente, no Brasil, que boa organização e estrutura fazem grande diferença.

No "Grenal dos sócios", Inter está na frente

No "Grenal dos sócios", Inter está na frente

Os dois principais clubes do Rio Grande do Sul têm obtido importante destaque no cenário nacional e internacional nos últimos anos. O Sport Club Internacional foi campeão da Libertadores e do Mundo em 2006 e campeão da Sulamericana em 2008, além de boas colocações nos últimos Campeonatos Brasileiros, tendo obtido o 2o lugar em 2005 e em 2006 e o 5o em 2008 (2007 foi a exceção, com um 11o lugar). O Grêmio Foot-ball Portoalegrense, por sua vez, não conseguiu os títulos, mas, desde o seu dramático Campeonato da Série B, em 2005, ficou perto do topo nos três Brasileiros subsequentes: 3o em 2006, 6o em 2007 e 2o em 2008, sendo que neste último liderou o campeonato por 17 rodadas. Também foi vice-campeão da Libertadores em 2007.

Embora os dois clubes tenham traçado trajetórias muito diferentes para chegar onde estão atualmente, pode-se dizer, sem erro, que um importante fator foi comum a ambos: seus enormes quadros sociais.

Acredito que o grande sucesso do modelo associativo de Grêmio e Internacional deve-se muito à intensa (e, às vezes, insana) rivalidade. O bom momento colorado de 2005, contrastando com o fundo do poço vivido pelo tricolor, motivou os torcedores vermelhos a buscarem associação, como forma de contribuir ao clube de forma constante. Também era uma forma de garantir presença nos jogos da tão esperada Libertadores de 2006 - fazia muitos anos que o Internacional não disputava a mais importante competição da América do Sul. Por sua vez, os gremistas aproveitaram a euforia precedida pelo desespero - não há como negar que a “Batalha dos Aflitos” foi determinante nesse aspecto (eu mesmo me associei ao Grêmio em dezembro de 2005 - 2 semanas após o dramático jogo contra o Náutico).

De todas as formas, os dois clubes tiveram um movimento extraordinário de associações em 2006 e 2007 - de cerca de 5.000 sócios pontuais cada, o Grêmio passou a 40.000 e o Inter a 50.000, aproximadamente. Desses números, cerca de um terço são sócios patrimoniais, com direito a entrada garantida, e o restante é composto de sócios-torcedores, que têm direito a 50% de desconto nos ingressos, além de poderem comprar pela internet ou por telefone, carregando seus smart-cards, o que evita o transtorno de enfrentar filas em bilheterias, especialmente nos jogos mais importantes.

Aproveitando o centenário do clube, que acontecerá no mês de abril, o Internacional lançou uma campanha estipulando a meta de 100.000 sócios há um ano, quando o clube completou 99 anos. Apesar de alguns não conseguirem dizer o nome do time, o Inter chegou à incrível marca de 80.000 sócios em fevereiro deste ano, ultrapassando com muita folga o número de sócios do rival, que tem 46.700 sócios em dia. Estima-se que o Grêmio arrecade quase 2 milhões de reais por mês com as mensalidades de seus sócios, o que é suficiente para cobrir a atual folha salarial do clube, com alguma folga. Devido às pesadas dívidas trabalhistas contraídas por conta da fracassada parceria com a empresa de marketing esportivo suíça ISL, praticamente toda a receita extra destina-se à quitação das mesmas. Porém, a dívida está sob controle e sendo amortizada, o que permitiu ao clube voltar a ter crédito junto às instituições financeiras e aos clubes brasileiros e do exterior.

O Internacional não teve problemas administrativos dessa envergadura, o que lhe permitiu chegar aos anos 2000 sem dívidas expressivas. E está colhendo os frutos dessa estabilidade administrativa, sendo que a maioria dos jogadores têm contratos de 2 anos ou mais. E a gigantesca arrecadação com o quadro social lhe permite bancar uma folha salarial expressiva, sendo considerada a maior do Brasil atualmente.

Por conta do grande número de sócios dos dois clubes, os estádios Olímpico e Beira-Rio mantêm médias de público altas. O Grêmio teve a maior média de público pagante em 2006 (25.630) e a segunda melhor em 2008 (31.725), segundo o site da CBF. Estádios cheios têm um efeito psicológico positivo sob a equipe. Não por menos, tanto o Grêmio como o Inter são equipes muito difíceis de serem batidas em seus domínios.

Certamente há um espaço expressivo para crescimento da receita de Grêmio e Internacional, especialmente no que diz respeito a patrocínios. O valor atualmente pago pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para os dois clubes é pouco superior a R$ 3,5 milhões por ano. Considerando o valor dos contratos que os grandes clubes brasileiros estão obtendo, é provável que o próximo patrocinador dos clubes invista um montante consideravelmente maior nos próximos anos. Mas não entrarei neste assunto, que é tema para outro artigo.

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