sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mulheres procuram mais as torcidas organizadas

Jordan Fraiberg

TORCIDA_LEGIÃO Nos últimos anos, se tornou perceptível o aumento do número de mulheres nos estádios de futebol. Essa procura pelo esporte nacional reflete nas torcidas organizadas. Na Torcida Jovem do Santos, existem 652 garotas, número que vem crescendo desde 2002 - ano que o Santos voltou a conquistar títulos - totalizando num aumento de quase 30% ao ano.
A percepção deste aumento é confirmado, por exemplo, pela pesquisadora Leda Maria da Costa. Ela explica em sua tese de doutorado, Marias-Chuteiras x Torcedoras Autênticas, que há um sensível desgaste na idéia de que futebol é coisa de homem. Segundo ela, é muito difícil repetir essa idéia sem vê-la contestada pelo razoável número de mulheres que atuam como profissionais, ou que fazem do futebol um lazer nos seus momentos de folga.
O diretor de Relações Públicas da torcida santista, que se identifica apenas como Amilton, explica que todos os associados pertencem a uma "família", que é a própria Torcida Jovem. "Tem casos de famílias que foram formadas aqui e hoje trazem seus filhos, netos e até bisnetos", conta.
E para que essas "famílias" continuem indo aos jogos com tranquilidade, Amilton recomenda que as torcedoras não fiquem sozinhas. Para ele, pode aparecer algum torcedor de um time adversário e acabar fazendo provocações. "Geralmente, as torcedoras ficam livres das brigas que acontecem pelas ruas da Cidade. As torcidas não admitem desrespeito com as mulheres", afirma Marco Antônio, ex-integrante de uma torcida da Capital.

VIVIANE ARAUJOA secretária Ana Luiza Perez Muzetti diz não existir nada melhor do que a vibração da torcida. "Poder, de perto, expressar todo o amor pelo seu time, gritar, xingar e comemorar com mais de 20 mil pessoas que têm a mesma vontade que você", é o que explica, na visão da secretária, a decisão de entrar numa torcida organizada.
Ana Luiza, que é integrante da Mancha Verde, torcida organizada do Palmeiras, afirma que o torcedor precisa apoiar o time em qualquer situação e às vezes tem de passar por momentos desagradáveis. Ela conta que, uma vez, foi ao Palestra Itália ver um jogo com o dinheiro contado da passagem e o ingresso. Chegando lá, a pessoa que tinha separado o ingresso para ela sumiu, e não havia mais nenhum na bilheteria e nem na torcida organizada, só dos cambistas. "Como era o último jogo do campeonato, eu não ia deixar de assistir, por isso comprei de um cambista. Gastei meu dinheiro inteiro e não tinha como voltar. Tive de passar a noite na frente do estádio e esperar minha tia, que trabalha em São Paulo, me levar para Santos, mas valeu a pena", conta.
Já a estudante Laís Putini diz que o futebol é para ser um divertimento e não um vício - e muito menos uma obsessão. "Eu acho até que faz mal para as pessoas que largam tudo pelo futebol. Agora existem garotas que se misturam e deixam até de fazer coisas femininas, se descuidando", afirma.

Histórico
- O início das torcidas organizadas começou com uma disputa entre Flamengo e Fluminense, o tradicional Fla-Flu. A torcida pioneira era chamada de Charanga do Flamengo, na década de 40, composta por músicos que tocavam músicas da época durante as partidas. Já a primeira torcida uniformizada foi a Gaviões da Fiel, do Corinthians, em 1968.
Essas torcidas já haviam sido vistas na Inglaterra, país onde surgiu o futebol. Lá os fanáticos violentos pelo esporte são chamados de hooligans, termo criado por um jornal inglês que significa violência, ou desordem, envolvendo torcedores de futebol. A primeira briga registrada entre torcidas, na Inglaterra, foi em 1846.
No Brasil, as brigas se tornaram mais comuns nas décadas de 80 e 90, chegando a ocorrer mortes nos conflitos entre torcidas organizadas.

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