Como os times de futebol do Brasil estão tentando destacar-se frente ao difícil cenário do futebol brasileiro?
Marcelo Iglesias
Dívidas a perder de vista, instalações precárias, falta de estádios próprios, terceirização de serviços, jogadores talentosos saindo ainda no início da carreira para clubes europeus ou que lhes ofereçam mais dinheiro. Essa é a dura realidade da maioria dos clubes de futebol brasileiros. Com uma situação dessas, como almejar igualar-se a uma das grandes equipes européias? Parece quase impossível. No entanto, alguns poucos desenvolvem ações que os tornam auto-sustentáveis, uma vantagem enorme em um país como o Brasil.
“É importante ressaltarmos que nem sempre os clubes europeus geradores de grandes receitas anuais estão isentos de dívidas e de déficit no final do período. Um bom exemplo disso é o Chelsea, clube inglês de destaque, com atletas e comissão técnica de primeira linha, mas que possui muitas dívidas”, afirmou Amir Somoggi, professor de marketing e gestão esportiva, e consultor de empresas de auditoria de clubes, agências de marketing esportivo, patrocinadores e entidades esportivas.
Recentemente, por exemplo, Roberto Dinamite, o novo presidente eleito do Vasco da Gama, assumiu que o caixa do clube estaria zerado e que a agremiação estaria devendo cifras de aproximadamente R$ 250 milhões. Além do clube carioca, é sabido que muitos outros times possuem situação de devedor de grandes quantias, o que torna a administração de tais instituições mais difíceis do que esse trabalho seria normalmente.
“A diferença entre os clubes da Europa e os daqui é que os de lá sabem que por mais que se tenham gastos maiores para manter-se um futebol de nível elevado, em uma visão macro sobre a questão, deve-se tentar sempre a maximização das fontes de receita e o controle dos custos. Principalmente àqueles referentes à remuneração de jogadores”, comentou Somoggi.
Um dos pontos que seria interessante para que os clubes brasileiros conseguissem sair das suas situações financeiras complicadas seria o investimento em receitas que pudessem elevar-se a cada ano como, por exemplo, o marketing voltado aos torcedores, os estádios próprios, os valores recebidos diretamente das mídias, entre outros.
“Na prática, o primeiro passo a ser dado é o desenvolvimento de um planejamento estratégico de longo prazo. Essa análise deve tentar projetar o cenário futuro do futebol, o que, no Brasil, é a parte mais difícil”, disse Somoggi. “No entanto, tanto no futebol como em outros esportes coletivos, existe uma pressão por resultados imediatos. Por isso fica ainda mais complicado agir-se com uma visão mais a frente”, completou.
Algo que pode espantar muitas pessoas é que, no país que mais ganhou Copas do Mundo, os poucos clubes que desenvolvem políticas e ações que os tornam auto-sustentáveis estão fora do principal eixo econômico da nação (Rio – São Paulo). São quatro esses clubes: Internacional, Grêmio, Figueirense e Atlético-PR.
“Essas equipes conseguem esse feito, porque trabalham na captação de sócios ligados diretamente ao futebol. Ao contrário, outros buscam a adesão de sócios ligados ao clube como um todo. Para ter-se uma idéia, só Grêmio e Internacional somados conseguiram com sócios, em 2007, uma quantia de cerca de R$ 38 milhões”, explicou Somoggi.
Uma das principais estratégias de equipes européias que garantem grandes receitas anuais é a realização de estratégias de marketing que não têm ligação com o desempenho da equipe, o que pode lhes render bons valores mesmo que o clube não esteja em boa fase. Campanhas que têm dado resultados positivos mas que ligassem-se exageradamente à fase do time são as que o Corinthians vem realizando.Quando a equipe de Parque São Jorge foi rebaixada para a senda divisão do Campeonato Brasileiro, foi lançada a ação “Eu nunca vou te abandonar”.
Quando o clube chegou à final da Copa do Brasil deste ano, deu-se início à campanha “Não pára!”. Apesar do sucesso dessas duas, elas estão muito atreladas à fase do time e podem sucumbir de uma hora pra outra.
Pelo Brasil ser um país de dimensões continentais, é evidente que existem diferentes realidades a serem enfrentadas pelos clubes. Falando-se sobre alguns daqueles que foram apontados como os que conseguem ser auto-sustentáveis (Internacional, Grêmio, Figueirense e Atlético-PR), os dois times gaúchos garantem boa parte de seus ganhos devido às suas torcidas e à forte cultura gaúcha que existe no estado e que é muito ligada àquilo que vem do Rio Grande do Sul.
O Atlético-PR, por sua vez, não conta com essa identificação total dos paranaenses. “Por isso, nossa estratégia é valorizar a marca Altético-PR. Temos um excelente centro de treinamento, nossa administração é completamente composta por profissionais da área e temos uma arena muito moderna”, afirmou João Augusto Fleury, presidente do clube. “Os clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo têm cem anos e torcidas enormes. Eles investem em colocar o máximo de pessoas possível dentro dos estádios. Nós não podemos nos dar a esse luxo”, completou Fleury.
A idéia do Atlético-PR é a de que não adianta ter no elenco um atleta talentoso se você não pode oferecer-lhe as condições ideais. O aspecto das boas instalações também é interessante para o clube, pois, segundo Fleury, os investidores têm confiança em um time que possui equipamentos modernos, e por isso se preocupam menos na hora de depositarem o seu dinheiro na equipe.
“Nós não estamos preocupados com a nossa imagem pessoal. Queremos construir um clube forte e para isso, baseamo-nos em boas instalações e, antes de mais nada em respeito aos torcedores”, disse Fleury. “O espectador só vai respeitar o clube e as suas dependências, quando ele for tratado da mesma forma”, concluiu.
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